Amor, em tempos de pandemia.

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Em tempos de crise, todo amor é testado. Em tempos de pandemia também. Afinal, amar quando tudo está tranquilo, quando há o básico – segurança, conforto e paz – já requer muita sabedoria. Imagine, agora, amar quando nosso chão treme, quando algumas coisas triviais se tornam enormes incertezas, quando nossos projetos são ainda mais incertos…

A Ana, por exemplo. Sofreu demais por ter que adiar o próprio casamento. A Júlia ficou doente, não pode mais se aproximar do noivo, da família, de ninguém. O Marcelo poderia estar em melhor situação, mas a esposa médica, na linha de frente de um hospital público, preferiu se isolar num quarto de hotel. Por amor.

Basta viver para poder se dar conta de algumas coisas triviais, como o fato de que existem dias que sobram angústias e falta um pouco de paciência. É o normal da vida, que neste instante chega potencializado pelo incerto. Amar hoje passa por estas necessidades: a de ser acolhido na preocupação, na tristeza, nas inquietações. Amar hoje também é repensar juntos os planos, os sonhos e os cuidados.

Na sexta-feira do início do isolamento social no Brasil, cheguei em casa e no lugar de um beijo, fui mandado para pia do banheiro. Era preciso lavar as mãos. Os sapatos, fui convidado a deixar perto da porta, mas meu par de chinelos já me aguardava ali na sala. Só depois do banho é que ganhei um abraço apertado e um beijo gostoso. Abri um vinho e o bebemos comendo um sanduíche de drive thru.

Não é o que se espera, mas o que é possível viver. Entendi que um beijo bem dado, vale tanto quando um cuidado em forma de ‘lave já essas mãos’. Amor de verdade, em tempos de crise se adapta, se replaneja. Se reinventa. É o que temos por agora, e ainda assim, chega a ser tão bom, que vale a pena se entregar e sonhar outros dias, outros planos, outra vez.