Um novo olhar sobre o “novo normal”.


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Sei de gente que não digeriu bem isso de ´o novo normal´. Me identifico. Até uns dias atrás, estava sentindo asco só de ouvir a expressão. Certo dia me liga alguém do setor de eventos e propõe participar de um projeto adaptado para a retomada das cerimônias de casamento.

Eu já havia passado meus atendimentos de psicanálise para o modo online. Agora, celebrar em tempos de isolamento social, eu não via como. Por outro lado, a ilusão de que tudo logo voltaria a ser como antes, já não me convencia mais. Talvez fosse mesmo uma oportunidade para encarar a realidade com um outro olhar. Isto implicava pensar o tal do ‘novo normal’.

De princípio, foquei no ´novo´, pois é inegável a grande novidade que está sendo o momento atual. O fato é que a vida sempre é feita de novidades. A gente até se ilude com a rotina, acha que tem algum controle e gosta de se sentar sempre no mesmo banco, para sentir menos desconforto. Mas, não são só os dias que passam, a gente passa também, mudando constantemente. Podemos entrar duas vezes nos mesmo rio, mas serão sempre novas águas.

Você se acostuma a ter 30 anos e, de repente, já tem 40. Se acostuma com um emprego, uma ideia ou um padrão, mas a vida sempre impõe uma variação. A diferença neste momento atual é que muita coisa ficou diferente ao mesmo tempo, muita coisa de uma vez e sem garantias de um retorno, de uma volta ao ‘normal”.

Mas afinal, o que é o ‘normal’, em um mundo de contínuas mudanças? Normal é ter sempre o mesmo peso, ou o mesmo corte de cabelo? Normal é não ter nunca uma alteração de humor, ou uma crise de identidade? É ter os mesmos sentimentos pelas mesmas pessoas? E se um novo alguém entrar para o círculo de pessoas que amamos, esta novidade é algo de anormal?

Normal é que a vida seja uma contínua mudança. Convém que a gente se adapte, pois, resistir parece ser uma luta travada contra o que é inevitável. Nada escapa ao novo, nem mesmo a cor dos nossos cabelos, ou a aparência que temos hoje, tudo muda e nos convida à uma adaptação. É assim há milhares de anos: a adaptação ao ‘novo’ parece ser a palavra de ordem, tanto para a evolução, quanto para a extinção.

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Atualizando: Este texto rendeu um convite da Professora e doutora em linguística, Rosana Ferrareto do IFSP, para uma Live que pode ser conferida aqui: https://www.instagram.com/tv/CCuBgyHlDVq/?utm_source=ig_web_copy_link

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